18/01/2010

Alívio de verão.

Numa marmitex. É como me sinto. Sabe como é, o bafo quente que deveria subir com toda sua leveza de moléculas espalhadas à mercê dos ventos parece estagnado. O papel/material da qual é feita a embalagem da marmita reflete, em linguagem leiga, a temperatura emitida pela comida de volta pra ela, retendo o seu calor.
As antes ilhas de calor coalharam numa cidade-bóia que mantém seus habitantes com temperatura exocorpórea nada mais nada menos que 42 graus célsius, com sensações térmicas que variam entre 50 e 55 graus da mesma escala. Está impossível.
Nos tempos de infância, diria eu às forças que controlam o tempo que devolvessem meus hominhos, se não sabem brincar. Suar nas escalas atuais era uma coisa inimaginável há 10 anos atrás. Chame de pobreza, mas ainda bem pude ter uma infância sem camisa e descalço sobre o asfalto sem conseguir de brinde uma insolação ou queimaduras solares nos ombros e rosto.
Esta cidade que, desde 2007, se gaba por ser a mais arborizada do Brasil e a segunda em perspectiva mundial, com aproximadamente 94 m² de mata/habitante assemelha-se a cada dia que o sol a castiga com uma quentinha-capital disposta na grelha Centro-Oeste.
Mas todo esse quentume que nos faz goianienses habitantes de uma churrasqueira à bafo levanta uma questão interessante: como, com todos esses metros quadrados de área verde, essa cidade consegue estar tão infernal? Penso que a resposta esteja vinculada ao crescimento industrial, populacional, industrial et cetera que a cidade, digamos, sofreu nessa última década. Esse avanço que nos trouxe emprego, habitantes, status e vantagens afins nos proporcionaram – que me corrijam os especialistas - prédios por toda parte que, são além de moradia empilhada, barreiras que impedem a  circulação dos ventos, usinas que fumegam poluição contribuindo para formação de outras ilhas-de-calor que se transformarão em um estado-de-calor entre outras coisas que podem agravar nossa situação de forno, fazendo de nossa tão endeusada mata uma porção de brócolis, e sabe bem o gosto que tem brócolis...

Droga, enquanto fico a pensar bobagem, perdi a garrafa de uma das únicas coisas que suam não importa quão geladas estejam.
As gotículas surgem transparentes e contrastam enquanto escorrem gélidas e numerosas com a embalagem e com o louro conteúdo: cerveja.
Grito: chefe, desce outra gelada pra ontem! E o calor é que se foda!

Por H. O.

Um comentário:

  1. Achei a crônica muito diferente das outras que você já escreveu, mas diferente, às vezes, pode passar a impressão de pior, muito pelo contrário, a crônica ficou ótima, sério! Continua de parabéns.
    Gostei do desenrolar do texto, fez várias comparações, trouxe dados, tudo isso sem perder o foco do assunto.
    Você me conhece, sabe que eu sempre tenho uma parte favorita, só que nessa crônica, não foi uma parte, foram duas. Aí estão: "Nos tempos de infância, diria eu às forças que controlam o tempo que devolvessem meus hominhos, se não sabem brincar" (Adorei!) e "Grito: chefe, desse outra gelada pra ontem!E o calor é que se foda!"

    Continue escrevendo crônicas, pois o seu talento, com certeza, não está só na poesia.

    Te amo!

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