28/10/2009

Axioma

Deixe que
O abraço absorva
Vagarosamente
Os esporádicos
Espasmos tranqüilos
De verdade.
Deixe.
Que a sinceridade
Se transferira
De corpo em chacoalhadas
De respiração,
Em arrepios
Espinhais;
No encontro de olhares
E na gentileza
Com que os fecha.
Deixe que
Sua cabeça
Desça levemente
Ao meu colo;
Repouse;
Enquanto
Grãos de pólen,
Folhas e meus dedos
Acariciam seus cabelos
A favor dos matinais
Sopros de vento.
Respire fundo.
Deixe que
O ar toque
Todos os capilares
De seus pulmões.
Na saída do ar,
Deixe que
Saiam as difíceis
Palavras
que lhe entalam
A glote.
“Eu te amo”.
É a sentença
Que você pensa
É a sentença
Cuja essência
Você sente
É o que você
Deve dizer.
Disse.
Pelos eriçados
Levam seu dizer
Ao meu ouvir,
Ao meu entender,
Ao meu dizer;
Retruco:
Eu também te amo.

Por H.O.

21/10/2009

À flor de Hórus

Tudo
Que passa
Minuciosamente
Por entre as pálpebras
É detestável.
Você sabe.
Cercas idióticas
São confeccionadas
Sem cessar.
Set,
Após tomar posse
De sua parte da ampulheta,
Deve fazer com que
Buracos
Pareçam rachaduras
Ordinárias;
Preenchendo lacunas
De curiosidade
Com cegueira.
Feitos,
Que, na História,
Entalham,
Melhor, cauterizam,
Com mentes egoístas
E mentirosas palavras
Incandescentes,
O nome da incompetência.
O Insatisfeito,
O Inquieto – Banhado
Em desejos
Pessoais,
Como todo fruto
Da humanidade -,
Por não deixar
Que o Conformismo
Lhe costure a visão,
Pode ter uma chance
De soprar a maquiagem,
Revelando,
Para si,
O rosto imperfeito,
Da Realidade.

07/10/2009

Apnéia das palavras

A comunicação
Intra-neural
Falha.
Incapazes,
Acorrentados,
De se mover,
Não espalham,
Os neurônios,
Pelo físico,
A cinética
Responsável
Pela iluminação
Das idéias.
Bloqueios.
Folhas em branco vazias,
Caneta sonolenta,
Mãos e idéias raciocínios
Confusos
Se fazem sintomas
Inerentes
À periódica
Patologia,
Cujos oficiais
Das letras
Configuram suas
Vítimas prediletas

Por H.O.

O trapaceiro

Mais um.
Um dia inteiro...
Foi-se.
Passou
Com típica
Velocidade
Dos mais
Gostosos
Ponteiros.
Trapaceiro
Se configura
O relógio,
O bom acelera,
Atrasa o ruim,
Emperra os segundos;
Obrigados
Se movem aos
Arrastos.
Bem aceita é
A teoria de que
Nosso dia, como
Nenhum, teve
Apenas
Vinte e quatro segundos,
Caracterizando
Injustiça para
Com o amor
Seu e meu.

H.O.

Aéreo Castelo

Posto fosse
Tarde
Hei de deitar-me
Junto a
Meus
Pensamentos;
Como
Sem erro
Me recolho
Às noites.
Penso em
Pensamentos
Já pensados.
Seu conteúdo
Foi há muito
Não ad, mas
Absorvido.
Solilóquios:
Formados
Como se
Os travesseiros
Falassem como
Companheiros
Aos meus
Ouvidos.

Enquanto
Velo a penumbra
A preencher
Meu momento,
Admiro eu
A conjetura
De o vulto
Seu
Acomodar-se
Ao lado
Meu
Através
Das noites doravante.

Nó-sego
Ata
Uma a outra
Nossas intensões,
Beijos,
Amores,
Vontades,
Defeitos,
Temores.
E assim
Desprender-me-ei
Jamais.
Cumplicidade.
Cai a noite
Que janela
Permite argêntea
Entrada:
Consumamo-nos
Nós dois;
No que muitos
Consideram
Impossível.


Por H.O.

”Tudo isso é um castelo no ar” – Machado de Assis – Helena

Erro reciclável.

Engrenagens
Paradas,
Danificadas
Como em
Cãibra férrea,
Recheada de
Ligas de aço
E carbono,
Roçam-se
Umas às outras.
Atiram-se
Em vãs
Tentativas,
Espanadas,
De fazer
O sistema
Concretizar
Seu propósito
Com plenitude.

Óleos variados
não circulam
Por entre os
Dutos, vários,
Multifuncionais,
Apenas os unta;
Os mela com
Pressão escassa.
Ineficácia.
Eletricidade se
Esperdiça através
Das fiações que,
Pelo decrepitude
E míngua de
Manutenção,
Corroem-se
Mútua e
Simultaneamente,
Tentando reanimar
A lataria defunta.
O tempo é a
Única máquina
Cujo complexo engrenal
Não falha.
Conta com exatidão
As décadas de ócio
Que o engenho
Mofou em sua
Curta vida.

Essa greve
De utilidades
Apresenta a
Sentença
Irrecorrível.
Metabolismo
Orgânico natural
Haveria de
Nutrir-se
De suas entranhas
Enfermas e fracassadas.
A impossibilidade
É um problema;
Reciclagem,
Uma
Breve
Solução.

por H.O.